O Banco Central Independente do Brasil não cansa de surpreender com suas demonstrações de independência.
Ontem foi divulgada a ata da última reunião do seu Copom - Comitê de Política Monetária, que reduziu a taxa básica de juro em meio ponto percentual.
Para surpresa geral, a ata deixa de lado sua costumeira linguagem hermética e diz claramente que neste ano os juros brasileiros devem mudar de patamar e passar a ostentar apenas um dígito, como quer a presidente da República.
O inusitado da ata leva o jornal O Estado de S. Paulo a dizer, em editorial, que "a leitura da ata deixa a estranha impressão de ter sido escrita pelo ministro da Fazenda - dado seu estilo otimista -, e não por autoridades monetárias independentes".
O jornal Valor Econômico mancheteia: "Ata mostra que BC adotou `cenário Dilma`".
É a independência à brasileira, o brado retumbante que, todos sabem, não foi brado e muito menos retumbante.
O Banco Central, na sua intrigante ata, afirma que é possível ter juros de um dígito dada a frágil conjuntura externa, o fato de a inflação em doze meses caminhar para o centro da meta (4,5%) e por o juro neutro (aquele que permite o crescimento econômico sem gerar inflação) ter mudado de nível e ser menor agora. Além do que, deposita total confiança de que Dilma vai cumprir a meta do superávit primário cheio, sem maquiagem, mesmo em pleno ano eleitoral.
Quanto ao cenário externo, nada a opor. Tudo leva a crer que a Europa vá ter um crescimento pífio em 2012, se crescimento houver. Os Estados Unidos vão crescendo lentamente, a um ritmo quase brasileiro, de pouco menos de 3% ao ano. A China desacelera e a Índia também, mas suavemente, tudo indica.
Agora, inflação convergindo para meta? Quando? Pós-Copa? Ou pós-Olimpíadas cariocas?
Quanto ao juro neutro ser menor, faltaram na ata argumentos que sustentassem a afirmação.
Enfim, como diz o Estadão, o BC abre mão da política monetária (que, em sendo ele independente, é ele quem decide) em prol de uma fé na política fiscal, que não é decidida por ele. Corre riscos de credibilidade se algo der errado.
O Copom retirou da ata também a expressão "ajustes moderados" da taxa de juros, que sinalizava uma nova redução de meio ponto percentual na próxima reunião do comitê. Para analistas, isso significa que a Selic em março pode oscilar entre 0,25 e 0,75 ponto percentual. Se tivesse de fazer uma fézinha, este colunista cravaria 0,75.
Com todas essas decisões e posturas, aumentam as probabilidades de um novo ciclo de alta dos juros começar ainda neste ano - e não em 2013, como se imaginava. Mas tem as eleições.
O índice de desemprego em dezembro foi de 4,7%, o menor desde 2002, quando o IBGE começou a série histórica. A média de 2011 fechou em 6%.
A queda se deu mais pela redução na procura por emprego do que pela abertura de novas vagas.
O que mostra duas coisas: continuamos em regime de pleno emprego, apesar da crise internacional, e as empresas não estão demitindo, apostando em uma recuperação da economia.
Mas o cenário já não é tão bonito assim quando se detalha os dados. O desemprego é muito maior do que a média entre mulheres (7,5% em dezembro), nordestinos (9,6% em Salvador e 6,5% em Recife, as duas metrópoles nordestinas pesquisas pelo IBGE) e jovens (23% na faixa entre 15 a 17 anos; 13,4% entre 18 e 24 anos).
Ainda há muito a se fazer.
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